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UM AMOR SEM SENTIDO, MAS QUE SE SENTE.

21-07-2016 15:02

UM AMOR SEM SENTIDO, MAS QUE SE SENTE.

Sou acordado pelos raios de sol matinais a invadirem-me o quarto. Ao revirar-me na cama, encontro-te. A palidez da tua pele confunde-se com o desbotado dos meus lençóis, que se erguem e baixam sobre o teu peito, a cada uma das tuas respirações. O tom lilás das minhas cortinas tinge-te de várias cores, enquanto o brilho da manhã te incandesce no rosto. Apareces-me tal qual uma miragem. Não me atrevo a tocar-te, com medo que te sumas. Com o temor de que a tua presença não passe disso mesmo: de uma mera imaginação minha. E estes meus pensamentos – de tão altos que me soavam na mente -, foi como se até a ti te chegassem. Senti-te espreguiçar, ao meu lado, de súbito. Encolhi-me; sustive a respiração. É agora, pensei de mim para mim, que desvaneces por completo.

Mas tal não aconteceu. Ao invés, os teus braços envolveram-me como num laço. E os teus lábios tom de seda encostaram-se serenamente na curva em vírgula do meu pescoço, plantando um suspiro. Em seguida, caminharam para a minha boca, e deleitaram-se num beijo. Respiraste-me e eu respirei-te, por entre sôfregos. São esses os beijos de que mais gosto e tu sempre soubeste: que nos cortam a respiração, ao passo que nos absorvem por completo. Como se, a cada um deles, fosses capaz de levar algo de mim contigo. Ao mesmo tempo que também tu me deixas uma parte tua comigo.

Durante horas, mantivemo-nos completamente inertes sobre a cama. Com o passar destas, mais o teu aroma se ia infiltrando por entre aquelas quatro paredes. Como se todo aquele quarto sempre te tivesse pertencido. E mais os teus toques suaves ao longo das minhas costas despidas, me iam arrepiando ao longo de todo o meu corpo. Como se todo este fosse sempre, sempre teu e de ninguém mais. Durante horas, anos passaram por nós. Os que havíamos passado juntos, por entre conversas intermináveis. Os que havíamos passado longe, por entre silêncios desoladores. Como se toda uma vida – uma história; a nossa – se tivesse concedido num só momento. O agora. Deitados sobre a cama, mirávamos as paredes preenchidas com as nossas memórias. Nem um único som se fazia ouvir, para além de ambos os nossos suspirares. Como se palavra alguma fosse capaz de fazer sentido suficiente, para descrever o tudo que estava a ser sentido. Quiçá... Ao teu lado, até as suposições me morriam. E todas as questões deixavam de sequer precisar de qualquer resposta. Quiçá, sempre fora assim e eu nunca dera conta.

Até o momento mais breve ao teu lado, me saberia a para sempre. E eu já desisti de tentar explicá-lo, até porque acredito que nem haja uma explicação. Talvez seja suposto ser assim, para nós, o amor. Talvez não seja jantares à luz das velas, nem comemorações de mês a mês. Talvez não tenhamos sido feitos para nos amarmos dessa forma. Talvez seremos sempre a forma mais controversa de amar: por momentos singelos e fugazes. Por saudades desmedidas e encontros ao acaso. Quem sabe? E se o destino de nós os dois, for amarmo-nos por entre coincidências?

Talvez nada disto faça o menor dos sentidos. Mas ninguém disse que era suposto fazer. Mas bastas tu e sempre tu: a (re)apareceres quando menos espero, mas quando mais preciso. A saciares as minhas saudades e a acalmares-me as dores solitárias. A calares as minhas suposições e a pores termo às tais perguntas, que me arrancam do sono. Afinal... é sempre ao teu lado, que tenho as noites mais tranquilas. E porque hei-de perder tempo a achar um sentido, quando posso, ao invés, sentir-te a ti?

A.F.

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ORGULHO? O QUE É ISSO?

27-06-2016 11:42
ORGULHO? O QUE É ISSO?
 
“Não é o orgulho que te aquece à noite”, digo de mim para mim, de todas as vezes que dou por mim a engoli-lo. E são tantas as vezes, acredita em mim. Que queres que eu faça? Nunca fui uma pessoa orgulhosa; não faz parte de mim. Sempre tive outras prioridades, e resolver as coisas, seja de que maneira for, sempre foi o mais prioritário. Será defeito ou qualidade? Nem sei bem.
 
Alguém que adoro disse-me uma vez: “o silêncio é o melhor remédio”, mas eu não consigo ser assim; não faz parte de mim, afinal de contas. Até porque, a meu ver, sempre foi mais relevante não deixar nada por dizer. Detesto silêncio. Detesto palavras caladas, aquelas que morrem nos lábios, aquelas que só se querem soltar. E mesmo que não me sirva de nada, eu falo sempre. Eu digo-te tudo o que há a ser dito, mesmo que não mude coisa nenhuma. Será defeito ou qualidade? Não tenho a certeza…
 
Por isso é que não consigo calar-me a ninguém. Mesmo que não haja volta a dar, eu opto sempre por gastar todos os cartuxos. Expludo em raiva, grito a plenos pulmões, viro furacão. Mas digo tudo, ai se não digo. E depois, aí, posso ir-me embora e não mais voltar. Não por orgulho, não se trata disso. Nunca será o orgulho a impedir-me de voltar. Mas sim a minha dignidade. E acredita: uma coisa não tem nada a ver com o outro.
 
E eu quero que saibas que eu vou perdoar-te. Ainda não o fiz, admito, estou demasiado magoado. Mas as mágoas, essas, passam. E passarão ainda mais depressa se não as agarrarmos com amargura. Acredito que as pessoas orgulhosas, por vezes, sustêm demasiados rancores dentro de si mesmas. Eu não sou assim, nunca fui; não faz parte de mim. Eu sofro tudo. Sofro com o coração todo e esvaio-me em dores infundas. Mas, a seguir disso, eu perdoo. Eu perdoo, mesmo que não te possa voltar a aceitar na minha vida. Mas eu perdoo-te. E só desejo que sejas feliz.
 
É esta a pessoa que sou. Há quem torça o nariz, há quem diga que tenho falta de amor próprio. Eu prefiro acreditar que as pessoas menos orgulhosas, aquelas que lutam, que vão atrás, que dão o braço a torcer e que dão tudo de si até ao fim, são as que mais se amam a elas próprias. E porquê? Porque optam por não se corroer em amarguras e problemas mal resolvidos. E haverá algo mais destruidor para a nossa alma, do que corrompê-la com ódios descabidos e imortais?
 
Eu amo ser da maneira que sou - neste aspecto não-orgulhoso. Neste aspecto humilde, de quem concede oportunidades enquanto acredita que essa pessoa as mereça. Por mais que me desiluda; por mais que me magoe. Se é defeito ou qualidade, não sei, nem me interessa. Faz parte de mim. E a minha prioridade é manter quem eu amo na minha vida, acima de tudo.
 
Desculpa senão conseguir manter-te aqui. Mas eu juro que vou perdoar-te. Eu juro que não vou ficar a perder-me na amargura do quanto me magoaste, sabe-se-lá durante quanto tempo. E não só perdoar-te-ei, como também te desejarei para sempre a melhor das felicidades. Porque é esse o verdadeiro significado de perdoar: aceitar que o que tínhamos a fazer na vida um do outro já está terminado, e seguir de sorriso e lágrimas no rosto.
 
Tu magoaste-me. Não foste o primeiro, nem serás o último. Afinal, as pessoas magoam-se umas às outras. Eu própria já feri tanto sem querer, por querer, e aqui estou. Também a mim me perdoei. Espero que aqueles que magoei também o tenham feito. Porque não se ganha absolutamente nada em odiar quem já (nos) partiu. O tempo e alma que desgastamos em ódios poderia estar a ser aproveitado para amar. E o mundo seria um sítio tão melhor que optássemos pelo amor, acima de tudo. Por mais que nos magoe, ai se não magoa.
 
Mas eu escolho continuar a amar os meus. Acima dos seus erros e dos seus defeitos. Até os orgulhosos eu amo. Aqueles que me fazem ir atrás as vezes todas, até esses eu amo. Sou uma daquelas pessoas que foi feito para amar, e se há coisa que eu sei, é fazê-lo. E eu amo-te. Amo-te por mais que me tenhas magoado. Amo-te por mais que me fira de todas as maneiras. Amo-te, perdoo-te e para sempre irei amar-te.
 
Afinal, não é o orgulho que nos aquece à noite. Mas sim o amor que carregamos dentro de nós.
 
A.F.

 

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BORA SALVAR O MUNDO?!

20-06-2016 19:14

BORA SALVAR O MUNDO?!

Hoje, estou tão triste. Não porque discuti com uma amiga, não por temer pela incerteza do meu futuro. Não, nada disso. Hoje, eu estou tão, mas tão triste por viver neste mundo tão, mas tão doente. Atrevo-me a dizer até à beira do colapso.

Sempre tomei tantas coisas como garantias natas: o conforto, a liberdade e a segurança. Pois assim me educaram, afinal de contas - e ainda bem. Não há mal nenhum nisso, se formos a ver. Nasci no seio de uma família que me amava, vivi rodeado de pessoas amigas e sempre tive todas as condições para poder levar uma vida confortavelmente feliz. Sei que não sou o único, obviamente. E lá está: não há mal nenhum nisso. Porque foi assim que os nossos pais nos apresentaram ao mundo, e tanto se esforçaram para que tivéssemos mais do que eles tiveram.

No entanto, toda essa ‘bolha’ que nos rodeia acaba por, eminentemente, rebentar. Somos como que atirados de para-quedas para a realidade bruta e insano que nos envolve a nós, seres humanos. Com isto quero dizer, que começamos a ter noções que nem sempre tivemos. Começamos a preocupar-nos - pelo menos alguns de nós - com o aquecimento global, com a guerra, com o preconceito, com a crise, a violência, entre outras doenças da nossa sociedade.

Desde o menino rico ao pobre, às maiores grandes potências e países do Terceiro Mundo, todos sofremos dos mesmos males, em conjunto. E eu acho que é disso que nos continuamos a (querer) esquecer. Olhamos de soslaio para a guerra que eclode num país qualquer longínquo, até a ameaça começar a bater à nossa porta. Ignoramos matérias como o ambiente, porque as coisas nem estão assim tão más; mas depois ressentimos-nos com as alterações climáticas, que não nos deixam ir para a praia. Entre outras coisas que teimamos em pôr de lado.

Às vezes, nem sei o que me assusta mais. Se o ódio puro que tantas pessoas carregam dentro delas, se a indiferença generalizada que prevalece entre nós. Insistimos em não querer ver para além do quadro pequeno, que é a nossa vida. Vivemos sobre este prisma tão redutor “ao menos não se passou comigo” e deixamo-nos estar. Um atentado ocorre num lado, viramo-nos para o outro. Viramos todos moralistas nas redes sociais, mas nem mexemos um dedo para mudar o que quer que seja. E porquê? Quiçá, porque, desde cedo, nos ensinaram que pouco ou nada podemos mudar. E que quem manda serão sempre os ‘outros’. Mas, afinal, quem são os ‘outros’?

Os ‘outros’ não existem. Porque nós somos todos um. Não somos diferentes raças, ou orientações sexuais, ou classes separadas numa sociedade. Nós somos O ser humano. A espécie que teve o derradeiro prazer de ter um planeta nas suas mãos, em conjunto com uma flora e fauna incontáveis, que insistimos em executar - ou pior, assistimos a isso sem fazer nada.

Hoje, estou tão, mas tão triste. Por viver num mundo onde pessoas preferem ver homens com armas na mão do que homens de mãos dadas. Um mundo que não aceita estrangeiros sem um lar, por acharem que já temos problemas que chegue - como se eles nem fossem seres como nós. Um mundo que legaliza porte de armas, mas que faz um filme no que toca à adopção de dois pais ou duas mães. Um mundo que proclama touradas e circos como grandes espectáculos, mas que adora ter gatos e cães no alpendre. Um mundo doente, é esse em que vivemos.

Se cada um de nós fosse a mudança que quereria ver no mundo, tudo seria tão diferente. Se amássemos e deixássemos os outros amar livremente, quer seja um homem, ou uma mulher, ou um Deus, nenhuma guerra levaria a sua avante. Se as armas fossem banidas de todas as mãos erradas, se as fronteiras fossem todas abertas, se o dinheiro que existe fosse repartido da forma mais justa possível… que mundo seria esse. Utópico, talvez. Mas será realmente impossível?

“Não há nada mais trágico neste mundo do que saber o que é certo e não fazê-lo. Que tal mudarmos o mundo começando por nós mesmos?”, Martin Luther King.

 

A.F.

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QUEM MAIS JURA, MAIS MENTE

20-06-2016 19:13

QUEM MAIS JURA, MAIS MENTE

Eu juro que estou a tentar perceber-te. Eu estou a tentar, mas não consigo, pois não faz sentido algum. Qual era, afinal, a tua ideia? Era pagares-me uma viagem a dois pelo mundo fora, e deixares-me a meio caminho, sem te justificares? Eu deveria ter sabido melhor. Nem tive direito a um bilhete de regresso. E, agora, aqui estou eu - algures. E tu? Disso sei menos ainda.

Eu juro que estou a tentar não chorar por ti. Eu estou a tentar, e isto é tão vergonhoso, mas não consigo, pois tudo me dói. Como e porque é que isto me está a acontecer?! Diz-me: o que é que eu fiz para merecer tamanho tratamento tortuoso? Será que foi por estar sempre presente, quando precisavas de mim? Ou será que foi por ter-te atribuído uma importância demasiado grande para o teu corpo a suportar? Diz-me, por favor, que eu já só quero parar de chorar.

E eu juro que estou a tentar esquecer tudo isto e seguir em frente. Eu estou a tentar, mas é tão difícil, porque tu és aonde eu quero estar, pois eu nunca pensei que fosse possível ser tão feliz ao lado de alguém, como fui contigo. Sempre te disse que a nossa amizade era a coisa mais rara do meu mundo, e agora já só consigo pensar que os amigos podem partir o teu coração, também. E tu estás a quebrar-me de tal maneira, que já só penso nisso, e até me esqueço do quanto deveria estar a esquecer-te.

E eu juro que estou a tentar perdoar-te por me teres deixado aqui, no meio do nada. Eu estou a tentar, mas não consigo, porque eu estou tão perdido sem ti. E eu quase que te odeio por isso, porque tu mostraste-me lugares que eu nunca pensara que existiam, e levaste-me a conhecer lados meus que só se abriam para ti. Para, depois, me deixares em lado nenhum; em lugar algum. E eu estou tão perdido sem ti, porque tu nem te deste ao trabalho de me apontares o caminho de volta.

E eu juro-te que estou a tentar reencontrar o meu caminho sozinho. Eu estou a tentar, mas parece impossível, porque todas estas estradas insistem em levar-me a becos sem saída. E, tingidas nas paredes, estão as palavras que tu me dizias. “És tão especial, és tão importante, não me imagino sem ti”. Leio-as a todas como quem recita poetas mortos, e já só consigo cair rumo ao fundo. E quem disse que não há fundo mais fundo que o de um poço, então é porque nunca se afogou completamente dentro do abismo do seu próprio coração.

Agora que penso nisso, eu não quero jurar-te nenhuma destas coisas. Nunca fui pessoa de juras de amor, pois essas acabam sempre, sempre assim. Em bilhetes de avião guardados ao fundo de uma gaveta; em lágrimas que se choram sozinhas; em dores que te obrigam a esquecer, que te impedem de esquecer, por mais que saibas que é o melhor para ti; e em caminhos que não nos levam a nenhum lado, por sentires que não pertences mais a sítio nenhum.

Soubesses tu o quanto tudo me dói, desde que te sumiste, sei lá eu para onde. Por um lado, ainda bem que não sabes das minhas dores, porque eu jamais quereria que sofresses por minha causa. Engraçado, não é verdade? São as pessoas de que mais gostamos, as que mais nos magoam. E, mesmo assim, continuamos a gostar delas acima de nós próprios. Se bem que, agora que penso no assunto, isto não tem piada nenhuma.

(E eu deveria ter sabido melhor. Que as juras eternas são a maior piada que existe.)

A.F.

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QUE PUTA DE VIDA, ESTA..

03-06-2016 22:09
QUE PUTA DE VIDA, ESTA...
 
 
Um nó enlaça-se na minha garganta, impedindo-me de falar, de chorar, de fazer o que quer que seja. As minhas respirações ficam-se pela metade, dói-me o corpo todo, principalmente o âmago do meu peito. E, aí, eu tenho a certeza que o meu coração voltou a quebrar-se. Foda-se, que puta de vida, esta. Que só nos sabe matar aos poucos e cada vez mais.
 
Não me arrependo de nada, sabes? Nem enquanto choro, aqui, sozinho, às 2 da manhã, sou capaz de arrepender-me do que quer que seja. E sabes porquê? Porque eu gosto tanto de gostar de ti. Porque eu gosto tanto da pessoa que sou quando estou apaixonada por ti. Gosto da minha timidez, que nunca a soube que a tinha; gosto da alegria que me percorre nas veias e gosto ainda mais por tudo isto ser por ti. para ti. E tu és tanto para mim… Sempre o foste.
 
Agora, vem a parte trágica, como seria de esperar. Tu simplesmente não consegues sentir aquilo que eu sinto. E como poderia eu culpar-te? Pois, lá está: da mesma maneira que não consigo mandar o meu coração fechar-te as suas portas, tu também não podes obrigar o teu a abrir-me as suas. E que puta de vida é esta, como tu costumas dizer. E eu já só consigo chorar com o corpo todo, que se desfaz em pedaços, por saber que jamais voltará a sentir o teu.
 
Há quem diga que o tempo é o maior inimigo do amor. Porque duas pessoas têm de se encontrar na ‘altura certa’, e isso nem sempre acontece assim. Quiçá, até fomos feitos para sermos felizes um com o outro, mas infelizmente nunca nos cruzamos no momento certeiro. Esse escapa-nos sempre. E que puta de vida é esta, que só nos soube cruzar nas piores alturas. Até perdi a conta das vezes, agora que penso nisso. Quando duas pessoas foram feitas para se apaixonarem, mas não para ficarem juntas.
 
Talvez passo por louco ao pensar assim, mas tu serás sempre o melhor que (nunca) me aconteceu. Trouxeste ao de cima o melhor de mim, lados meus que eu nem sabia que existiam. E eu nunca te vou poder agradecer por tudo aquilo que partilhámos os dois. Ensinaste-me a ser humilde, paciente e a nunca duvidar de mim. Mostraste-me valores como a ambição e a responsabilidade. E, como se não bastasse, ainda me fizeste voltar a acreditar no amor.
 
Agora, vem a parte bonita - não feliz, mas mais como um sorriso triste. Tu és e sempre serás uma grande parte de mim. Gosto de acreditar que, quanto a isto, sentimos o mesmo. Claro, um canto do meu coração será sempre teu (não fôssemos nós crentes na teoria de que o amor não termina, apenas se transforma…), e isso poderá ser doloroso em muitas alturas. Mas sabes que mais? Se for para sofrer, que seja por alguém que vale a pena. Gosto de pensar que esse alguém és tu.
 
Há uns tempos atrás, disseste-me algo que jamais esqueci. “Quero investir em ti com todas as minhas forças, quero lutar por ti. E, quando no fim, achares que eu desisti, estarei a lutar em silêncio…”. E que puta de vida é esta, que nos leva a lutar sozinhos e às escondidas. Mas sabes que mais? Por ti, continuarei a lutar até se me esgotarem as armas. Foda-se, que lute sem escudo e sem espada! E não me interpretes mal: quando falo em lutar, falo em lutar por manter-te na minha vida, seja como for. Porque se há alguém digno de ser guardado, esse alguém és tu.
 
Agora, vem a parte do “até breve” recheado de lágrimas. Agora, vem a parte em que saio à rua com as mágoas a pesarem-me nos bolsos, mas mesmo assim saio de casa. Agora, vem a parte em que sofro o luto respeitado por tudo aquilo que morreu antes de sequer ter começado. Agora, continuo a viver a puta desta vida, que apesar de me tirar tanto e de me matar tanto, é minha. E é tudo o que eu tenho.
 
Um dia, quem sabe, a vida deixe de ser uma puta e me recompense. Até lá, faço-o eu.
 
 
A.F.
 
 
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MAIS DA MESMA MERDA

25-05-2016 05:21
MAIS DA MESMA MERDA
 
A noite está fria, eu estou esgotado e o ar que circula sussurra-me o teu nome, por entre os prédios que vêem as suas cores desmaiadas por entre a escuridão. Escuridão, essa, que me cerca. E tu estás nem sei eu onde… Onde é que tu estás? Onde é que tu foste? E que raio fiz eu agora, para que te afastasses de mim? Serei assim tão fácil de perder?
 
São tantas as perguntas que me rebentam na cabeça. Mas eu não digo nada. Não digo nada, por medo. Medo das verdades que me morrem nos lábios, antes da minha boca tentar sequer falar. Um nó enlaça-se na minha garganta, as lágrimas espreitam-me no olhar e tu não as vês. Porque tu foste não sei eu para onde… E porquê? Tu prometeste. Tu prometeste que não irias fugir, como todos aqueles que te antecederam. Julguei-te diferente… agora, já nem sei de nada.
 
E que mundo é este, que só nos deixa aterrorizados; que só sabe impedir-nos de gritar a plenos pulmões, aquilo que sentimos no nosso coração? E eu sinto tanto. E eu amo tanto. E eu temo tanto, mas não consigo deixar de sentir todas estas coisas. Toda esta raiva, por me teres deixado desamparado. Toda esta mágoa, por me teres feito sentir tão especial e tão insignificante, logo em seguida. E todo este carinho, que me impede de odiar-te; de me zangar contigo.
 
A noite está fria e eu estou cansado. Cansado de viver uma vida com medo de sentir. E mais que isso: com medo de dizer o que sinto. Com medo de abrir o meu peito esventrado, para libertar-me finalmente de todas as suas correntes. Mas não consigo. Não consigo dizer-te o que quer que seja, porque tu não me queres ouvir. E se o quiseres, então não o demonstras. E eu estou cansado, tão mas tão cansado de que não me ouças.
 
Estavas à espera do quê mesmo? Que todas as tuas acções passassem por mim como se não fossem nada? E que toda essa tua cantiga do “estou aqui para te provar que o amor não é nenhuma sentença que nos deixa condenados” me deixasse incólume? Porra, diz-me, o que te custa seres sincero comigo? O que te custa mandares-me embora? Tu não estás a fazer nada, a não ser fugir! A não ser deixares-me derradeira mente condenado a este limbo de dúvidas e de silêncio. E o que é que eu te fiz para merecer isto?! Fui-te verdadeiro. Fui-te amigo. Fui-te tudo aquilo que consigo ser… E tu? Tu fugiste, e eu já nem sei de nada de ti.
 
É fodido, não é? Quando nos abrimos; quando nos mostramos vulneráveis por gostarmos tanto, na esperança de sermos correspondidos. Para, depois, darmos por nós sozinhos, numa cama vazia, ainda a cheirar à outra pessoa. Ainda com as músicas que essa nos dedicou a ecoar-nos nos ouvidos. E todas as palavras, também, que agora só soam a mentiras de merda.
 
Eu gosto tanto de ti, mas não estou a gostar nada deste teu lado que me demonstras. Que te afasta, sem sequer dares uma justificação. Que te enclausura dentro de ti mesmo, sem te preocupares sequer com o facto de uma parte de mim já ser tua por direito. Que te torna num, como muitos outros que por mim passaram. E isto é tão fodido para mim, porque eu gosto de ti.
 
Eu gosto de ti, mas não posso continuar a fazê-lo. Se houve coisa que aprendi com as minhas desilusões, foi a nunca mais me subjugar a alguém que simplesmente não faz por me merecer. E se tu me mereceste, outrora, hoje perdeste esse direito.
 
Eu sou forte, tu sabes. Já me desliguei de tanta gente, por ser o melhor para mim. É fodido, porque eu comecei mesmo a acreditar que tu jamais irias pertencer a esse grupo. E, agora, aqui estás tu: um, como muitos outros.
 
A.F.

 

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"THE ONE THAT GOT AWAY"

13-05-2016 03:55

"THE ONE THAT GOT AWAY"

É tão fácil confundir o amor com outra coisa qualquer, não é verdade? Quem nunca o fez? Atrevo-me a dizer - e por muito que me custe admiti-lo - que já o fiz demasiadas vezes do que seria suposto. “Mas quando é que eu vou aprender?!”, perguntava-me, vezes sem conta. E por muito que eu seja aquele tal homem que devora romances atrás de romances, sou a primeiro a confessar: que de amor, eu não percebo nada!

“E o que é que há para perceber?”, perguntam-me. E, aí, eu digo-vos que não há muito, na verdade. Na essência de tudo, só uma coisa interessa: ou é amor, ou não é. Ponto.

No entanto, para mim, nunca foi tão fácil como isso. Sabem aquela expressão tão clichê “o amor é cego”? Podem não acreditar em mim, mas essas são as palavras mais mal interpretadas à face da terra. O amor não tem nada a ver com ser-se cego ou não - as pessoas é que são cegas, à partida! Nada tem a ver com o facto de estarem apaixonadas. A cena é, quando amamos, não amamos com os olhos, nem com as razões, nem com coisa nenhuma. Há coisas que simplesmente o são - e o amor é uma delas.

Talvez seja por isso que sempre me confundi tanto. Nunca consegui encarar os meus sentimentos de forma simples. Racionalizava e esmiuçava tudo a um ponto, em que já questionava tudo e mais alguma coisa. Eu assassinava o amor, como quem rega uma flor em demasia e assiste-a a afogar-se, antes dessa sequer ter atingido todo o seu esplendor.

Tantos foram os corações que baralhei, por simplesmente nunca ter parado para ouvir o meu. E não digo isto em tom de superioridade, de todo. Até porque, a meu ver, não há nada pior do que magoar alguém que não o merece. Antes que fosse eu, que já estou habituada às minhas próprias mágoas, que não se afogam por nada deste mundo. E quem nunca confundiu o amor com outras coisas, como a falta de carinho, atenção, ou simplesmente de um corpo que se fundisse ao nosso?

Mas sabem o que é pior do que nos apercebermos de que, afinal, não era amor? É chegarmos à realização que, afinal, era. É apercebermo-nos disso tarde demais. E não se deixem enganar: o tarde demais acontece. O tempo esgota-se e não volta a ser nosso. E aquela pessoa que amáramos sempre, sem sequer saber, vai embora e torna-se para sempre “naquela que nos escapou”…

É assustador vivermos num mundo com pessoas infindas, mas com oportunidades tão limitadas. E não se deixem enganar: a expressão “há mais peixes no mar” é a maior falácia alguma vez inventada. Porque nós bem sabemos que aquela pessoa que nos escapou; aquela que deixámos partir rumo ao oceano, ia matar-nos a fome como nenhum outro peixe qualquer. E agora? Agora, seguimos. Agora, eu vejo-a a passar e rogo aos céus por mais uma oportunidade. E depois?

A culpa não é de ninguém. Nem isso podemos fazer nestes casos - atribuir culpas a quem quer que seja. Porque o tempo raramente joga a nosso favor, e vivemos num mundo em que não nos podemos dar ao luxo de esperar, porque damos quase sempre por nós a esperar sozinhos. E esperar pelo quê?, quando as oportunidades somos nós que as fazemos, mas também somos nós os que as deixam escapar para sempre.

E agora falo para ti: para aquele que me escapou. Só espero que saibas que, se te perdi, de facto, irremediavelmente, então que seja. Mas que encontres alguém capaz de amar-te como (só) tu mereces. E que sejas o mais verdadeiro “tu” que possas ser, porque tu és uma pessoa maravilhosa, como que de fora deste mundo. E eu, continuarei aqui, a aprender a ouvir o meu coração e a preencher a minha alma com aquilo que me pertence. Perdoa-me, mas não posso chorar a tua perda para sempre. E eu sei que tu, da maneira que és, não desejas isso para mim.

O amor nunca me cegou. Eu é que sempre sofri de cegueira. Mas esta tem cura, e eu tenciono curar-me. Mais ninguém pode fazê-lo por mim.

A.F.

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"DAYS I HAD WITH YOU"

07-05-2016 23:40

"DAYS I HAD WITH YOU"

Era um daqueles dias tão nossos, que outrora costumávamos partilhar, quando ainda nos restavam dias de sobra. (Ou pelo menos escolhêramos acreditar nisso). Chamo-lhes de “nossos”, porque éramos egoístas ao ponto de termos dias intocáveis do resto do mundo. Resguardávamo-nos na tua enorme casa de campo um fim-de-semana inteiro, se fosse preciso. Sem atender chamadas de quem quer que fosse, porque lá está: naquele mundo, só existia eu e só existias tu.

No teu terraço, ao cair da noite, partilhávamos cigarros e pensamentos, perdidos das horas - nem essas deixávamos que chegassem a nós. E, a medo, perguntei-te, enquanto mirava a tua face meramente iluminada pela luz soturna da lua:

- Será possível morrer por se amar tanto?

Tu acenaste com a cabeça levemente, como quem discorda. Não fosses tu sempre do contra.

- O amor não se quantifica. - murmuraste, sem nunca afastares o olhar das estrelas - E o amor é a única coisa capaz de nos salvar.

Assenti, como quem concorda. Não fosse eu tomar todas as tuas palavras como dogmas inquestionáveis. Permaneci albergado nos teus braços, como se de um porto de abrigo se tratassem. Até que me lembrei das tempestades que, de vez em quando, rebentavam com a costa, destruindo tudo por onde passavam.

- Às vezes, sinto que te amo a um ponto que chega a doer. Sei que é tolice minha, mas só de pensar que poderei perder-te, sinto-me a (des)falecer. - confessei, encostando-me à tua nuca, como se quisesse esconder-me de ti.

- Talvez morras de amor por mim. - disseste, como se não fosse nada.

E eu deveria ter-te dito. Que o amor pode, sim, ser aquilo que nos salva, mas só enquanto dura em ambos os nossos corações. Mas que também pode ser a nossa ruína, assim que alguém é deixado a amar sozinho. Não tive coragem de o dizer, porque, quiçá, sempre soube que, de nós os dois, eu seria sempre a que te amaria até ao fim. Até depois do fim.

Não se morre por se amar tanto, é verdade. Mas também não se vive. É um outro qualquer limbo, este em que me deixaste, assim que partiste e levaste contigo aqueles dias que nos restavam. E ainda hoje, passado tanto tempo, existem alturas em que sinto umas saudades tuas tão atrozes, que até me chega a doer o corpo todo. Quiçá, nem possa chamar-lhe dor. É algo transcendente, que me corrói a alma e me faz deixar de acreditar no amor e em tudo o que dele faz parte.

Até que penso na tua voz a sussurrar ao meu ouvido. Ou no teu espreguiçar contra o meu corpo, naquelas manhãs de Verão. Ou nos teus dedos cruzados com os meus, enquanto percorríamos as avenidas da cidade, sem destino. E, aí, apercebo-me que, por mais finito que seja, o amor que outrora partilhámos, naqueles dias tão nossos, foi a coisa mais real que poderia ter existido.

O amor não se quantifica, é verdade. Sempre tiveste razão em muitas coisas. No entanto, em contrapartida, deixaste-me a acreditar que eu sempre te havia amado mais do que tu a mim. Não é relevante, na verdade, mas ainda hoje isso me dói. Como foi tão fácil para ti deixares-me a amar sozinho, e a morrer de amores por ti, como se não fosse nada. Como se, naqueles dias tão nossos, eu teria sido o único que os sentia realmente. Como se o amor deixasse sempre um condenado, e o outro quase imaculado.

Acabei por ser condenado por todo o amor que senti por ti. E o que é que hei-de eu pensar do amor, agora, neste momento? Acabei condenado como se tivesse cometido o maior crime, quando o grande ladrão foste tu, que levaste o meu coração contigo e nunca mais voltaste.

A.F.

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A SAGA (E OS DIAS...) DA DEPRESSÃO

04-04-2016 15:52

A SAGA (E OS DIAS...) DA DEPRESSÃO

Hoje, estou num daqueles dias. Mais um daqueles dias em que a solidão levou a sua avante e enclausurou-me entre estas quatro paredes. Guardo o maço de tabaco junto à varanda, porque sei que vou fumá-lo quase de uma só vez. Trago vestido uma camisola três tamanhos acima do meu, para poder enxugar as lágrimas nas mangas que cobrem as minhas mãos. Ouço as mesmas músicas, umas a seguir às outras, mas nem lhes presto atenção. Ignoro o telemóvel e tudo o que me possa despertar para a realidade fora destas quatro paredes, porque eu, hoje, não saio daqui.

Puxo as persianas até baixo e finjo ser de noite, só para poder dormir umas cinco horas por entre a tarde. Como se o escuro do quarto fosse a desculpa perfeita para fugir da luz. Acabo a dormitar com um copo de vinho barato debaixo da cama, para não ter de o encarar enquanto me deixo levar pelo sono. Como se eu precisasse desesperadamente de uma desculpa; ou de uma ajuda para escapar… Mas escapar do quê? de quem? de mim?

E eu espero que, ao acordar sobressaltado, sem saber se é dia ou noite, tudo esteja melhor. E que eu esteja curado deste mal qualquer invisível que se alojou dentro de mim. E que toda esta batalha esteja terminada, apesar de ter sido eu quem a começou e de ser só eu quem a trava. Mas, depois, dou por mim: e estou num daqueles dias. Mais um daqueles dias em que a solidão levou a melhor de mim. Mas levou para onde, se fui eu que a deixei?

As desculpas amontoam-se na minha cama por fazer. “Desculpa, mas hoje fico em casa”, “desculpa, mas estou cansado”, “dói-me a cabeça, o corpo, desculpa…”. Peço desculpas a todo o mundo que me procura, mas nunca peço perdão a mim, que me deixei perder de mim mesmo. Afinal, porque é que pedimos tantas desculpas a tanta gente, mas nunca a nós, que somos quem mais nos faz mal? Suplico perdão ao meu coração, a que já sujeitei tanta dor e mágoa, e este ri-se, porque, hoje, já nem ele acredita que algum dia as coisas serão diferentes.

E, hoje, estou em mais um daqueles dias. Mais um daqueles, que até já lhes perdi a conta. Preocupo a minha mãe, que adivinha as lágrimas que teimo em esconder por entre as mangas. Afasto quem se preocupa, por não me achar merecedor de tal, por entre desculpas que se amontoam como tralha num sótão poeirento, aonde ninguém tem coragem de espreitar. E, assim, deixo-me ficar, a afogar-me em pensamentos absurdos e inúteis, que jamais me poderiam trazer ao de cima… (e eu nem poderia estar mais para baixo…).

Não tenho coragem de encarar o espelho, a única companhia por entre as tais quatro paredes. Então, permaneço na cama a fingir que sou outra pessoa. A fingir que sou aquele que, outrora, amou; a tal que lutava com unhas e dentes por tudo o que valia a pena (e até pelo que deixava de valer!); aquele que acreditava que os dias são só nossos e que devemos viver uma vida inteira em cada um deles. Mas não. Hoje, sou só a tal que está num daqueles dias. Em que saí vencido da guerra comigo mesma.

Quiçá, amanhã seja, finalmente, outro dia. Um em que acordo e digo “chega!”, e saio à rua com uma roupa apropriada, bem arranjada e de sorriso no rosto. As mágoas, os medos e as desculpas ficam todas do lado de dentro, e eu sigo caminho, com a mala ao ombro quase vazia. E apesar de todo o vazio que se faz sentir, naquele dia, eu sinto-me de mim e sei que sou de mim e eu basto-me.

Quiçá, amanhã seja o dia. O dia em que me apercebo que sou uma pessoa forte. E que os maiores heróis são aqueles que têm de batalhar consigo mesmos, todos os dias, contra um mal qualquer invisível que eles próprios criaram nas suas cabeças. Mal, esse, que é real - e ai de quem disser que não é real. Porque só eu sei o que eu sinto, naqueles dias, em que só sinto solidão; em que só encontro razões para fugir; em que só me perco mais e mais de mim, até não me restar nada.

Enfim… Ao menos o dia já terminou. Mas eu não... Que venha mais um dia, (eu consigo).

A.F.

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AMAR (NÃO) É PARA TODOS

30-03-2016 18:18
AMAR (NÃO) É PARA TODOS
 
Apaixonar-me por ti foi fácil… Quiçá, demasiado fácil. Afinal, como seria possível resistir a esses teus olhos com tons de Outono, capazes de me transportar para qualquer lado através de um mero vislumbre? E como poderia um rapaz como eu não se deixar enfeitiçar por um rapaz como tu, sempre com mil e um sonhos nos bolsos e música a rebentar-te na alma? (…)
 
Apaixonar-me por ti foi fácil e espontâneo. Tal qual uma tempestade numa madrugada de Verão. Os céus não a adivinham de imediato, mas assim que as primeiras gotas se fazem sentir, nós imediatamente sabemos. Aí vem ele. E eu imediatamente o soube: ali estavas tu. O homem que iria virar o meu mundo do avesso. O homem que iria fazer todas as músicas fazerem sentido. O homem que iria marcar-me para sempre. (…) Digamos que acertei em todas as minhas previsões, porque lá está: tu virias a ser a tempestade que viria mudar a minha vida como eu a conhecia.
 
Apaixonar-me por ti foi fácil e, ao mesmo tempo, assustador. Quiçá, por ter sido tudo tão rápido e tão intenso, como eu nunca imaginara ser possível. Num momento, estávamos a caminhar lado a lado pelas avenidas, a seguir à escola, cada um rumo à sua casa. No momento seguinte, já te tinha deitado ao meu lado, junto à costa, a mirar as estrelas cadentes e a pedir desejos em segredo. Noutro, lá estávamos, perdidos nos braços um do outro, no meio do nada, enquanto o sol subia, vindo do horizonte. Passou tudo tão depressa… E o amor era tanto e cada vez mais, a cada momento que passava, e eu não compreendia como é que tudo aquilo era possível.
 
Apaixonar-me por ti, admito, foi muito fácil; quase que inerente, como se já fizesse parte de mim, antes de sequer te ter conhecido. Como aquelas raízes de que me falavas, sempre que passeávamos por um jardim qualquer. Aquelas que se unem umas nas outras, debaixo do chão, e que surgem à superfície como uma só. E eu acreditava que o Amor era mesmo assim. E que, da mesma forma que me apaixonar por ti foi tão natural como respirar, permanecer contigo seria igual. Tal como as tais flores dos tais jardins por onde passeávamos juntos.
 
Apaixonar-mo-nos é (quase sempre) fácil… Lá está, nós nem temos de fazer nada. Por isso mesmo é que nunca nada me iria preparar para o quão difícil tudo se tornou - depois. Como foi ter de ver os teus olhos a transformarem-se no mais frio dos Invernos. Como foi assistir ao silenciar da tua alma, que deixou de tocar-me músicas, que perderam todo o seu sentido. Como foi ver os teus sonhos a dissiparem-se por entre as roupas que trazias. Como foi deixar-te na estação de autocarros, depois de uma madrugada que ambos passámos a chorar, e saber que o nosso para sempre tinha terminado para sempre.
 
Apaixonar-me por ti foi fácil, mas ficar contigo revelou-se impossível. E não há nada mais doloroso do que isso. Como é que se lida com o facto de que, a pessoa que mais amamos, nunca virá a ser, simultaneamente, a pessoa certa para nós? Como é que se pode aguentar vermos o nosso amor, o nosso melhor amigo, companheiro, a virar um estranho como todos os outros? (…)
 
Mas tu nunca poderias ser como todos os outros. Porque tu és tu. Tu foste o homem que me marcou para sempre. Tu serás para sempre o homem que sabe como fecho os olhos antes de um beijo. Tu conhecerás sempre o meu jeito de acordar, de chorar e de insistir, mesmo quando as razões se esgotam. Era isso que nos diferenciava e, quiçá, foi mesmo isso que nos tornou impossíveis um para o outro: eu não queria saber de razões para nada porque te amava. Tu alimentavas-te delas como desculpas para não o fazeres.
 
Apaixonar-mo-nos é (quase sempre) fácil… Difícil é fazer valer a pena todo o amor que se sente, todos os dias… Difícil é escolher a razão ínfima para lutar, em vez das incontáveis que temos para baixar os braços e ir embora. Difícil é sermos os tais que não deixam o medo intrometer-se no caminho. Lá está: amar não é para todos. E nisso, sim… tu foste só mais um.
 
A.F.

 

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ÂNGELO FERNANDES